15.8.10

das confissões do eu

as partidas ----------
não pertencer a nada nem lugar nenhum sempre foi o meu pior castigo, que tento compensar, em vão, e desde que me conheço, com o maior dos tropeços de meus fracassados instintos: querer ser um alguém que nunca conseguirei extrair da teoria. ser filha de estrangeiros me partiu em dois ao me condenar à brutalidade do desapego forçado, estrangeira aos solos em que piso, aos amores que me corrompem, às leituras dos meus dias vazios, estrangeira aos amigos que aprendi a fazer e não tenho forças para cuidar, à tudo o que deixo para trás. hoje parti novamente - sentindo os dias e noites que passam como incessantes repetições destas amargas partidas que temo terem se tornado um hábito, alimentado pelas dores do dizer adeus e espiar por sobre os ombros até os limites da visão e das circunstâncias. sei que o oceano que divide meus continentes e inunda as entranhas escuras de meu corpo também soube me fazer bem maior do que a extensão rugosa de suas águas profundas. ainda assim, comove-me a repugnância sentimental provocada por elas... e então serei o que, na vida, senão amiga de netuno, nereu, tétis e as oceânidas?

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