15.4.12

stray dog

hoje é meu aniversário. um 15 de abril nublado, ventania glacial, repleto de saias e vestidos que sobem e descem em flerte com o mundo. narizes doentes, primaveras ausentes, vontades de se esconder em camas, esquecer que as horas passam, que o tempo corre, que crescemos, que nossas células perdem água, atrofiam-se, preparam-se para morrer um dia, inevitavelmente - que esquecemos; de tanta coisa, tão frequentemente. descubro brancos cabelos em minha cabeça, cada vez mais abundantes, algumas linhas novas em meu rosto, outras histórias a contar. passantes na rua, encasacados, fitam-me pela vitrine deste pequenino lugar; escrevo este conto, estou só. e o gostar de estar só bate-se em duelo com o pensar em precisar querer estar rodeada, festejar. parte de mim choca-se incessantemente com a ausência que inunda este dia, pouquidade de gestos palpáveis - sinceridade. parte de mim se engana pensando que são realmente importantes tais demonstrações de afeto condensado. parte de mim guarda rancor de todas as coisas que não foram ditas, que não foram feitas, que não aconteceram do jeito que esperava. parte de mim sente uma vontade incontrolável de se amarrar com força à esta convenção social do aniversário como fantasia especial, exploração de alegria coletiva. parte de mim se entristece com o não cumprimento desta convenção, ano após ano. parte de mim se alegra com o descobrimento abrupto de que, ao final das contas, não preciso, nunca precisarei, de nada disto.
explodo inteira de amor, o que me chega em torrentes de todas as partes do mundo, o que me inunda silenciosamente, e partes e partes de mim têm manifesta consciência - tão morna - de que hoje estou só frente a uma xícara de chá, estou só até o anoitecer, estarei só até o final do dia, do alto de meus 25 recém-completados anos, e nada mudou, nada disto tem realmente importância, nem mesmo a solidão. se sei que hoje nasci, também sei que, em tantos outros dias, vivi.
viver o mundo, de certa forma, é tanto quanto vir ao mundo.

2 comments:

  1. Fred Spada16.4.12

    tu n'est pas seule, ma chérie, au moins pas totalement. n'importe où, je serai toujours là pour toi -moi et les mots.

    que tu aies eu une journée à la hauteur de tout ce que tu as vécu, aimé, rêvé, vu, écrit. et qu'on continue à marcher ensemble, malgré l'atlantique entre nous...

    gros bisous!

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  2. brutal o desfecho. tocou mesmo.

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