16.4.12

das confissões do eu

cair infinito --------------- assim sucederam-se as horas a partir da separação primeira; ou segunda, ou infinita, também, desde os inícios. afastar-se infinito, dias após dia, para então se segurar, reaproximar, recomeçar outro final. cair infinito no abismo da troca humana, do amor que se evapora ligeiro sem traços de condensação, sem sinal de que tenha ao menos existido. e certo dia o infinito encontra o chão. o chão é pedregulho, poeira, dureza caótica, e os anos passados compartilhando a mesma página - ou o mesmo livro - estilhaçam-se em vertigem. a vertigem é constância muda e invade as entranhas de náusea. e a náusea aplica-se então à mais rude tarefa: eliminar o mofo dos recônditos pelas bocas, vomitar as falhas em ritual de rejeição biológica, porque conviver com a memória de nossos próprios erros são quinze minutos suplementares de escuridão por dia - e quando o inverno se aproxima, combater a escuridão torna-se uma luta vital. se esta luta implica o esquecimento dos porquês do cair infinito, como resistir?
o resguardo de si é fundamental. proteger-se da criação de zonas de acumulação amortece a dor do encontro entre o cair infinito e o chão caoticamente empoeirado. duvidar de si mesmo canalisa todos diálogos - para dentro e para fora. cair em más escolhas, em marasmos, em duvidas, abortos, calmarias; tudo o que escurece a luta cotidiana acaba por evaporar também, como o amor. e errar - como erramos - é fácil. errar se apaga porque errar é comum a todos, assim como respirar, passar pelo tempo e recomeçar. e o cair transforma-se em subir infinito quando morrem as folhas de um verão desconfortável e não se encontra mais razões para dizer não. errar infinito.

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