nada ---------------------- lembro (como o vento de ontem ainda me invade olhos e poros): pensava reconhecimento por uma falta que nunca mesmo desaparecerá, que me faz falha, cicatrizada e pulsante, e que justificava todos os gestos, todas as gotas de sangue, toda a vergonha do ato - da auto-flagelação, da crueldade que corre ligeira no reino das vontades. pensava em como te perder me fez abismo, profundidade onde pude estocar poesia, pequenezas e detalhes surreais de cotidianos patéticos, onde sensações e sentimentos encontravam abundantes recônditos isolados nos quais se esconder. evitava a transpiração sentimental e o esquecimento, pensava em quem tu me transformastes com o passar da tua ausência.
em um último domingo - pesado de dores que fingem transparecer para me levar adiante sem fatalidades, pesado de um respirar entrecortado, batimentos cardíacos irregulares, pesado de verdades que prefiro para sempre ignorar, lavar ou esconder - não pude evitar o gesto, lancinante e tão maior do que eu. a diferença, eterna contradição da tristeza, foi entender que não te tinha em mente, que já não te era mais agradecida. onze anos, quatro mil e quinze dias, e a tua partida não é mais o que me move.
o que me escurece os olhos é agora disforme, desmedido e incompreensível, assim como os fantasmas que me impedem de dormir há tantas semanas. o que me escurece está fora de meu alcance - e se me é impossível apreender o que move minhas mãos, como poderei controlá-las? cega, ocupo todo o chão. cega, me desfaço em rios que desaguam e desaguam e desaguam, evacuando as pequenezas que me foram tão preciosas. cega, não sou nada. oca e efêmera, nada. alimentei o abismo, este inevitável eu, e agora nele me perco e sumo. não sou nada.
o que me escurece os olhos é agora disforme, desmedido e incompreensível, assim como os fantasmas que me impedem de dormir há tantas semanas. o que me escurece está fora de meu alcance - e se me é impossível apreender o que move minhas mãos, como poderei controlá-las? cega, ocupo todo o chão. cega, me desfaço em rios que desaguam e desaguam e desaguam, evacuando as pequenezas que me foram tão preciosas. cega, não sou nada. oca e efêmera, nada. alimentei o abismo, este inevitável eu, e agora nele me perco e sumo. não sou nada.
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