por olhares macios ficam as vontades; desejos de carinhos distantes que, descomprometidos e levianos, afrontam delicadamente curtas e indecisas sessões de intimidade. minha irmã costuma dizer que quando meus dedos crispam-se em fúria, ou quando não consigo respirar, ou quando feridas recentes ainda pulsam, meus olhos transformam-se obstinadamente em máquinas assassinas. killer eyes - são suas exatas palavras. diz também que, nestas horas, mato fragmentos de almas vizinhas como só conseguem algumas músicas nórdicas e azuis. a verdade é que gosto mais do som de certos olhares do que me interessam suas conseqüências finais. em desespero, eles me remetem ao silêncio de grandes extensões nevadas; sorumbáticos, trazem-me o ruído de oceanos tranqüilos; distraídos, reproduzem as notas quentes e graves de violoncelistas solitários. quando fortemente apaixonados, alguns olhares conseguem sentir o aroma doce de campos de lavanda, enquanto outros poucos chegam a tocar levemente os ângulos amarelos e brilhantes de enormes girassóis. tenho a impressão de que quando a mente sossega eles se descobrem em salas muito brancas e luminosas – mas não saberia dizer com certeza. sei muito, no entanto, sobre os olhos teatrais atrás dos quais me escondo covardemente, esperando que ninguém os fite tempo bastante para perceber que têm a mesma cor do que o mar no qual me afogo cotidianamente,
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