você jura que assim caminham as estórias porque o mundo gira sem sentido e para além de qualquer lisibilidade, e para além de todo controle, e para o vento, ventos do sul. eu juro, no entanto, que para toda reação há uma fagulha, e nada se consome por acaso, e as noites seguem os dias como os dias se seguem às noites. tenho ambições que se esmaeceram com o tempo e as chuvas, e que nunca mais serão parte de quem eu tive um dia vontade de ser. você sabe porque juro. quando sei que não fui lembrada, que transpareço – nada me é estranho. compreendo as ausências e desinteresses pois os crio como filhos, e os crio para me machucar, e hoje vivo destas ambiguidades doloridas, esquecimentos pré-programados. minha aversão ao vínculo não cessa de crescer, paralelamente ao arrependimento por ter permitido – e amado – sua infiltração na minha biologia. criei as demências que me esfaqueiam a cada olhar desviado, cada nome esquecido, cada silêncio embaraçado que se marca com precisão. você sabe porque o sumiço me tenta, e porque penso em partir, e porque partir – dos lugares ou da vida – me parece calmaria e doçura. e você jura que morrer é só escuridão, para os que partem e para os que ficam, e minhas vontades se entristecem amarguradas. amo estas dores que se entrelaçam aos meus olhos, pois justificam minha distância, assim como a distância justifica todas as dores. e eu sei, meu bem, eu sei que o que você jura não te é permitido, eu sei que o frio se aproxima sem calma, e eu sei que a vida te mutila. só há poesia na surpresa.
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