17.1.11

das confissões do eu

so long ------------------------------ uma perda, mais uma, outra, e a vida continua. certo dia, possivelmente, conseguirei compreender as misteriosas incertezas da morte nas quais me afogo desajeitadamente, e aprenderei, possivelmente, provavelmente, a nadar, retornar à orla, sobreviver – sem perder mais pedaços pelo caminho, a risco de chegar ao fim nula e esvaziada – pois é a isto que tudo se resume, o que se perde quando perco, e o que morre simultaneamente, homem e coração, matéria e memória, cheiros e lembranças de cheiros. há os que nascem para ensinar, os que correm, os piadistas, os que cuidam, aqueles que se doam, os que conseguem amar, os que sabem sorrir, os generosos, os escritores, os que contagiam, os que não sabem perder, os que se habituam a perder, e os que têm certeza de que esta não será a última vez, e há os que incorporam os desaparecimentos como parte intrínseca da naturalidade e dos tempos que correm em ciclos finitos inevitáveis, e sofrer por eles é quase paz, passagem necessária, pois a dor que finalmente se evapora é maior do que a que fica – e eu, querendo recuperar lembranças que já se foram, me apegar a vozes que já não reconheço, querendo de volta o que nunca voltará, e há saudades, saudades pontudas dos momentos que não puderam ser vividos, e estas dores que serão latências, multiplicação de meus pulsos, e permanecerão. vovô querido, gosto de seu riso malicioso, do café da tarde, das suas mãos suaves, dos seus escritos tão mineiros, e a saudade que tenho de você um dia, quando saberei nadar, será latência. até lá, por enquanto, fique aqui por perto... 
espero que o outro mundo seja doce, infinitamente mais doce do que este que você deixou.

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